sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Resenha: Original Musk - Kiehl's

Imagem: Acervo pessoal

Depois de uma longa e maluca jornada afastada deste blog, resolvi enfiar o rabo entre as pernas e voltar, devagarzinho, a escrever sobre perfumes. E vou voltar com um cheiro reconfortante, o cheiro de pele quente que estive em busca nesses últimos tempos. 

Notas de topo: Bergamota e flor de laranjeira
Notas de corpo: Rosas, lírio, ylang ylang e néroli
Notas de fundo: Fava tonka, patchouli e almíscar
Fonte: Kiehl's

A Kiehl's começou como uma botica que criava essências em meados de 1800 em Nova York. Segundo a descrição que vem na própria caixa e frasco do perfume, acredita-se que o óleo de almíscar original da marca foi criado por volta de 1920 e foi descoberto em um recipiente identificado como "Óleo do amor" durante a década de 50. Em 1963 foi reintroduzido e comercializado como a assinatura olfativa da casa. 

Original Musk é basicamente um perfume sobre ylang ylang e almíscar, mas também é possível sentir o aroma das rosas e flor de laranjeira. Porém as notas não são tão importantes aqui, é possível explicar seu cheiro de forma mais precisa. Está frio e você passou o dia inteiro muito bem agasalhado/a com roupas quentes e pesadas. Quando chega em casa você tira toda essa roupa e seu corpo aquecido libera o aroma abafado da pele, aquele cheiro de fundo sujo e adocicado, do óleo natural do corpo, animal e viciante. É assim que Original Musk cheira para mim. O abraço de quem você deseja que te aquece quando está frio, e quanto tempo durar este abraço é o tempo que você terá no pequeno paraíso dos cheiros e das sensações. É o cheiro do amor e das paixões, simples, sujo e animal. É esse o cheiro que pede um beijo e uma lambida no pescoço, que faz o abraço tornar-se mais forte e que faz as mãos passarem mais violentamente pelo corpo, apalpando o que cabe e o que não cabe nas palmas. É o cheiro de subir em cima de alguém e devorá-lo/a com olhos, mãos, boca, tudo o que é possível devorar alguém. É o cheiro do suor no frio com o vai-vém dos corpos em fricção misturado com a saliva dos beijos insanos. É o cheiro das vozes ressoando o prazer deste momento no quarto abafado, e é o cheiro da exaustão do corpo depois do gozo, da respiração ofegante, pesada, e das mãos entrelaçadas enquanto recobre-se o fôlego. Também é o cheiro que você quiser que seja. É o seu, o meu, talvez o de todo mundo, talvez de todo mundo que você se permita desejar um dia. É o cheiro carnal e ao mesmo tempo divino que a alma procura quando precisa de amor, de dar e receber amor, de fazer amor. É o cheiro da saudade e do aperto no peito também. Talvez um pouco de angústia ou alguma coisa a mais. Das paixões perdidas no tempo, abandonadas à própria sorte e que definharam ao longo do percurso. Das tentativas frustradas e cortadas pela indiferença. É o cheiro de quando você resolve tentar esquecer e seguir seu caminho por que é o melhor a fazer. Aí é o seu cheiro, porque você relembra que também é importante se amar.

Acho melhor parar por aqui. Experimente esse perfume em alguma oportunidade. Talvez cheire diferente para você. Pra mim é o rastro do cheiro no escuro que me levaria a alguém. Não posso falar como será pra você, então terá que descobrir por si mesmo.

Um abraço perfumado.

Trilha sonora: Charlie Haden e Gonzalo Rubalcaba - My love and I

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